Este mês os voluntas brasileiros foram surpreendidos com a notícia da saída de Maria Cláudia Kohler, Coordenadora de Voluntários do GP Brasil. MC, como é conhecida, coordenou os voluntários brasileiros por cerca três anos. Neste tempo em que ficou a frente do voluntariado no Greenpeace, ela foi responsável pela reestruturação dos grupos locais, propôs e participou de mudanças significativas, como a elaboração da política de voluntários da organização, com maior integração e envolvimento, conseguindo desta forma consolidar nosso trabalho. Trouxe mais força para os grupos e conseguiu reconhecimento pelo esforço e dedicação que empenhamos em nossas atividades.
MC fincou em SSA um exemplo de liderança, exercida com base no respeito e na busca de ideais comuns. Desejamos a ela sucesso na realização de seus projetos pessoais e profissionais. Os voluntas de Salvador se sentem órfãos de um membro importante para a organização.
Ao Pedro Torres, novo coordenador de voluntários, damos as boas vindas. A expectativa é de uma parceria ímpar, com a concretização do que já foi proposto pela gestão anterior e realização de novos projetos.
Maria Cláudia Kohler nos contou um pouco sobre o tempo em que esteve à frente do voluntariado no Greenpeace nesta entrevista.
GreenpeaceSSA Como você encarou o desafiou de assumir a coordenação do GP Brasil?
Maria Cláudia Kohler Cheguei no Greenpeace há três anos, em um momento de mudanças e questionamentos na minha vida, onde queria muito voltar a fazer coisas práticas, de vê-las de fato acontecer. Esse tempo passou rápido demais! Além de desafiante, foi sem dúvida uma experiência bastante gratificante. Minha vontade, naquele momento da minha vida, era de voltar a atuar em ONG, pois já havia trabalho nos demais setores – governo e empresa. Fui, entre outras coisas, professora por 12 anos e sentia que estava na hora de retornar ao movimento ambientalista ativamente, como já havia participado antes.
Ao ingressar no Green, por convite do Marcelo Furtado e do Frank, fui muitíssimo bem recebida por todos do escritório. Como já conhecia o pessoal, pois havia trabalho com Marcelo Marquesini para a CBD em 2006, no programa Kids for Forests, foi mais fácil.
GpSSA O que mais te motivou a seguir em frente diante das adversidades encontradas na organização?
McKohler Quando entrei, os sete grupos de voluntários estavam desestruturados e desarticulados já há alguns meses, com a doença e posterior morte do Emilio, que foi quem criou os grupos de voluntários. Ele era uma pessoa muito querida por todos e foi um impacto a perda dele. Os grupos estavam devagar, desmotivados e perdidos.
Acreditar é palavra de ordem para quem é ambientalista. Apesar da dificuldade e dos processo complexo, sempre acreditei na idéia do Greenpeace e que eu poderia contribuir de alguma maneira.
O time que encontrei era muito bom e isso tudo me motivou muito. Além de ser um trabalho desafiante e apaixonante! E também tinha o apoio da diretoria, o que era importante e muito bom. Foi um momento importante para consolidar os grupos. Espero que não desmontem este processo.
GpSSA Pra você, que já trabalhou com governo e empresa privada, o que faz o trabalho em uma Organização Não Governamental ser diferente?
McKohler Acho que o profissionalismo deve estar presente em qualquer espaço. Mas em ONG tem uma variante que é o compromisso. Não é o salário que te motiva, mas o desafio. Quem trabalha no terceiro setor tem um comprometimento diferente, acho eu. Você precisa estar envolvido com a causa. Acho que isso que é o grande desafio!
GpSSA Após três anos de Greenpeace qual o balanço que você faz sobre o voluntariado na organização e os novos desafios assumidos a partir de agora pelo novo coordenador?
McKohler Elaboramos a política de voluntários da organização, reescrevemos o lendário e polêmico manual de voluntário, estabelecemos a linha de comunicação dos coordenadores dos grupos de voluntários com o GP Brasil implementamos o calendário anual dos grupos, com reuniões mensais dos grupos e uma atividade por mês por cidade, envolvemos mais as campanhas nos grupos, integramos time de ação com voluntário, aumentando o número de ativistas, quebramos panelas e derrubamos pré-conceitos, integramos a reunião anual de coordenadores locais com os supervisores de DD – Diálogo Direto, inserimos VOLUNTÀRIO no planejamento da organização, inserimos uma coluna de voluntariado na revista do GP Brasil, fizemos a pesquisa sobre o perfil do voluntário, inserimos palestras e atividades em escolas nas atividades dos grupos e construímos a agenda comum entre Voluntário e DD. O desafio agora é continuar, manter este trabalho, e agregar ingredientes diferentes.
GpSSA Qual o retorno que teve do seu trabalho junto aos voluntários do GP Brasil?
McKohler Fiz muito amigos verdadeiros, aprendi MUITO com vocês! Podem ter certeza que aprendi muito mais com cada um de vocês do que vocês comigo. Verdade! Atitudes valem mais que o discurso teórico de alguns. Falar só bonito não basta para mudar. Me tornei, com certeza, um ser humano muito melhor após estes três anos, graças ao aprendizado que obtive com cada um de vocês.
GpSSA Acredita ter deixado algum “legado” para os voluntários brasileiros?
McKohler Acho que “legado” é forte. Talvez o legado tenha sido do Emilio, que iniciou isso tudo e acabou deixando a saúde de lado por se dedicar tanto. Todo mundo deixa uma marca, cada um deixa a sua, né? Deixei uma positiva, creio eu. E isso dá a sensação de dever cumprido, missão realizada. Claro que poderia ter feito mais, sim, sempre! Mas tiveram também questões estruturais e de orçamento limitado. Faz parte! De maneira geral, o saldo foi positivo, atendemos o que foi proposto.
GpSSA O que esses anos em que esteve à frente da coordenação de voluntários trouxeram para sua vida profissional?
McKohler Aprimorei o trabalho com projetos, apreendi novas ferramentas de trabalho de projeto e de gestão de pessoal, articulei com outras ONG´s nacionais e internacionais, enfim, aprendi a ter mais paciência também.
Vivenciei e confirmei que sem motivação e credibilidade não se coloca voluntário na rua, não se pendura banner, não se coleta 70 mil assinaturas, não se faz Open Boat, não se dá palestra em escolas, não se faz atividades sob sol, chuva ou ventania, não se passa perrengue juntos, não se dorme na delegacia, não se é fichado acha que tudo bem e ainda acha que, mesmo assim, valeu a pena.
Confirmei que sem acreditar no líder do grupo, não se troca a praia pela reunião no final de semana, ou a balada de sexta à noite pelo longo briefing de um campaigner animado para uma importante atividade no dia seguinte.
GpSSA E para sua vida pessoal, esses anos de Greenpeace trouxeram muitas mudanças?
McKohler Olha, foram três anos que me diverti muito e fui muito feliz. Conheci muita gente legal, enfrentamos desafios juntos e também me identificava com os ideais de todos. Mantive minha mente ligada na juventude e isso ajuda a te tornar uma pessoa feliz. Estes anos reforçaram o que eu já acreditava: Sem tesão, não se faz revolução!
GpSSA Você faria algo diferente do que já fez até hoje?
McKohler Hum, acho que não. Eu ainda quero ficar um tempo em uma aldeia indígena e sair velejando pelo mundo. Vontades que tenho e que se concretizarão algum dia!
GpSSA Qual a mensagem que você deixa para aqueles que, assim como você acreditam na mudança, através da atuação, dedicação, companheirismo e sensibilização por uma causa?
McKohler Acreditem sempre que cada um de vocês pode fazer a diferença. Acreditem nos sonhos de vocês, fiquem indignados, reclamem, busquem soluções. Participem. Não desistam, nunca!
Aprendi com vocês como se faz de verdade para termos um planeta melhor, mais solidário e voltado para o bem coletivo, pensando ainda nas próximas gerações. Agradeço muito, pois tenho filhos e quero ter netos também. Isso é único neste mundo individualista e egocêntrico, onde ter é mais que ser.
Obrigada, galera! E até breve. Afinal, os caminhos de quem acredita que um outro mundo é possível sempre acabam se cruzando!
GpSSA Conte um pouco sobre o grupo de Salvador e a suas impressões sobre ele.
McKohler Pra mim, o grupo de SSA foi um bom desafio que deu muito certo. No início pensamos inclusive em fechar o grupo de tão chato e fofoqueiro que era. (rsrs) Depois de muitas reuniões, o grupo foi se ajustando, amadurecendo e o Júlio ganhado minha confiança e mais espaço nas campanhas. Pra mim o grupo de SSA cresceu e se fortaleceu graças ao compromisso, maturidade e empenho do Júlio, que soube cativar as campanhas e buscar espaço dentro da organização.
Lembro de uma vez que tivemos uma reunião domingo as oito da matina, aquele sol; cheguei um pouco atrasada, pois desencontrei da voluntária que ia me buscar no hotel. Ao chegar à reunião, fiquei envergonhada, a sala da universidade estava cheia – mais de 30 voluntas. Fiquei emocionada! E fui tendo cada vez mais respeito por vocês. Vocês construíram este espaço e o coordenador local tem um papel forte nisso.
Hoje enxergo o grupo de SSA como um grupo forte, de bons amigos, responsáveis e capacitados. Vocês são criativos e podem explorar mais ainda isso. Um pouco mais de seriedade também não faz mal nenhum. É importante estimular o respeito entre vocês. Fiz amigos e amigas queridas no grupo e o Júlio, pessoalmente, se tornou um grande amigo!
Tornei-me amiga de muitos voluntários, é claro! Estabelecemos uma relação de confiança, respeito, carinho e muito bem querer. Não dá pra não se envolver. Dividimos tantas coisas. É uma relação de transparência e confiança!
Mas que merecida segue essa homenagem de uma pessoa que sempre esteve ao lado dos voluntários brigando por eles e sempre por eles, nunca esqueceremos de você Sargento MC, você nos ensinou como fazer um voluntariado e como sermos respeitados, a você o nosso parabéns e pode ter certeza que para sempre estará dentro de nós e conosco.
Beijos de seus eternos voluntários de Salvador.